quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Devi Mahatmyam - Parte I
























O Devi Mahatmyam ou Glória da Deusa, também conhecido como Durga Saptashati, é um texto composto de 700 versos divididos em 13 capítulos que originalmente aparece como parte do Markandeya Purana e é considerado um dos principais textos shaktas que cultuam o aspecto feminino do Supremo. O texto não é a escritura mais antiga em devoção a Deusa mais com certeza é o mais antigo totalmente focado no culto a uma divindade feminina.
O texto ocupa os capítulos 81 a 93 do Markandeya Purana que é narrado pelo sábio Markandeya, um grande devoto do Senhor Shiva, para seu discípulo Krasustuki Bhaguri. O Devi Mahatmya por sua vez aparece como um dialogo entre o sábio Medhas o rei Suratha e o comerciante Samadhi, que enredados em apegos são iluminados pelo sábio e devotam-se à Devi que, após ser satisfeita por ambos, aparece ao rei e ao comerciante para dar-lhes Suas bênçãos.
O texto deve ser sempre lido durante as nove noites do navaratri, um festival em honra as deusas, que culmina no Durga Puja.

Sri Sri Durga Saptashati Katha

A destruição de Madhu e Kaitabha por Sri Vishnu.













Markandeya disse ao seu discípulo Krasustuki Bhaguri:
Houve um rei conhecido pelo nome de Suratha que governou o reino de Kola. Ele foi um bom rei que protegeu seu povo e os tratou como filhos. Alguns ministros de Kola conspiraram contra o rei Suratha e fizeram com que fosse deposto. Privado de seu reino, o rei montou sozinho seu cavalo e adentrou em uma densa floresta. Seguindo pela floresta chegou ao eremitério do sábio Medhas, onde os discípulos do sábio realçavam a atmosfera do lugar e os animais selvagens eram pacíficos como se sob o efeito das vibrações tranqüilas que emanaram do eremitério.
O sábio recebeu o rei Suratha com a hospitalidade devida e este permaneceu no eremiterio a fim de se elevar-se espiritualmente. Certo dia durante uma caminhada nos arredores do eremitério, o rei Suratha refletia sobre sua vida. E vencido pelo apego, ele pensou:
“Não sei se a minha capital, que foi bem guardada pelos meus antepassados e recentemente desertada por mim, está sendo guardada honradamente ou não pelos meus servos de má conduta. Não sei que estão cuidando de meu elefante principal, heróico e sempre orgulhoso, e agora caído nas mãos dos meus inimigos. Aqueles que foram os meus seguidores constantes e receberam favores, riquezas e sustento de mim, agora certamente rendem homenagem a outros reis. Os tesouros que reuni com o grande cuidado serão desperdiçados por aqueles gastadores constantes, que são dedicados a despesas impróprias.”
O rei pensava constantemente nestas e outras coisas enquanto caminhava.
Perto do eremitério do sábio o rei viu um comerciante, e perguntou-o:
“Quem é você? Qual é a razão da sua chegada aqui? Por que você aparece como que afligido com grande pesar e com a mente deprimida?”
Ouvindo este discurso do rei, proferido em um espírito amistoso, o comerciante curvou-se respeitosamente e respondeu ao rei.
O comerciante disse: “Sou Samadhi um comerciante, nascido em uma família rica. Fui expulso por meus filhos e esposa, que se tornaram maus devido à ganância. Minha esposa e os meus filhos apropriaram-se indevidamente das minhas riquezas, e fizeram-me destituído de tudo que eu tinha. Expulso pelos meus parentes que dantes confiava, vim à floresta abatido pelo pesar. Vivendo aqui, não sei nada sobre a prosperidade de meus filhos, parentes e esposa. Como estão eles? Meus filhos estão vivendo boas ou más vidas?”
O rei disse: “Por que a sua mente ainda é afetuosamente atada a estas pessoas cobiçosas, seus filhos, esposa e outros, que o privaram da sua prosperidade?”.
O comerciante disse: “Este mesmo pensamento ocorreu-me, tão como você o proferiu. O que posso fazer? A minha mente não deixa o apego; ela carrega o afeto profundo àquelas mesmas pessoas que me expulsaram na sua ganância da riqueza, que abandonaram o amor por um pai e o apego por seu próprio parente. Não compreendo embora, eu o saiba. O rei de nobre coração, como é que a mente é propensa para amar até mesmo os parentes sem valor? Por causa deles levanto suspiros pesados e sinto-me abatido. O que posso fazer já que a minha mente não se endurece aos que não me amam?”.
Markandeya disse: Então o comerciante Samadhi e o nobre rei Suratha em conjunto aproximaram-se do sábio Medhas; e depois de observar a etiqueta digna dirigiram-se a ele de forma apropriada, eles sentaram-se e conversaram com o sábio.
O rei disse: “Senhor, desejo perguntar-lhe uma coisa. Caso seja de seu agradado responder-me. Sem o controle do meu intelecto, a minha mente sofre com a tristeza. Embora eu tenha perdido meu reino, como um homem ignorante - embora eu o saiba – eu tenho um grande apego a toda a parafernália do meu reino. Por que isso, O melhor de sábios? E este comerciante foi tomado como um desconhecido por seus filhos, esposa e servos, e destituído de suas posses pela sua própria gente; e ainda se mantém apegado e afetuoso por eles. Assim tanto ele como eu, somos arrastados pelo apego em direção a objetos e pessoas cujos defeitos realmente sabemos, somos excessivamente infelizes. Como isto acontece, então, senhor, que embora sejamos conscientes dela, esta ilusão persiste? Esta ilusão ataca a mim bem como a ele, nos cegando a respeito da discriminação?”.
O Rishi disse: “Senhor, cada ser tem o conhecimento de objetos perceptíveis pelos sentidos; Alguns seres são cegos de dia, e os outros são cegos à noite; alguns seres têm a visão igual tanto de dia como a noite. Os seres humanos só conseguem ver de dia! Todos os seres humanos são certamente dotados de conhecimento, mas eles não são os únicos, já que o gado, os pássaros, os animais e outras criaturas também conhecem os objetos dos sentidos.”
“O conhecimento que os homens têm pássaros e bestas também tem; Então qual a diferença? Olhem para a mariposa que se lança no fogo e é consumida por ele! Olhe para o homem se lança do fogo dos desejos dos objetos sensuais e também é consumido por ele! Todos são atraídos pelos sentidos; e o resto como comida e sono são comuns a ambos. Veja estes pássaros, embora eles possuam o conhecimento, são afligidos pela fome e são ainda, por causa da ilusão, ocupados em por grãos alimentícios nos bicos de suas crias. Vê com que devoção eles põem os grãos nos bicos dos seus jovens? Os homens, ó rei, são cheios de desejos. Os seres humanos são, ó tigre entre homens, atados aos seus filhos por causa da ganância, esperando recompensas em troca.”
“Você não vê isto? Portanto mesmo os homens são lançados no redemoinho de água do apego, a cova da ilusão, pelo poder de Mahamaya (Grande ilusão), que permite a existência do mundo. Maravilhoso não?”
“Esta Mahamaya é a Yoganidra (sono divino), de Vishnu, o Senhor do Universo. É por ela o mundo é iludido. Na verdade é ela, Bhagavati, Mahamaya que forçosamente arrasta as mentes até dos sábios, emaranha-os na ilusão. Ela cria este universo inteiro, tanto o móvel quanto o imóvel. É ela que, quando satisfeita, distribui os benefícios aos seres humanos e dá a liberação final (moksha). Ela é o conhecimento supremo, a causa da liberação final, e eterno; ela é a causa da escravidão e da transmigração (samsara) e a monarca acima de todos os senhores.”
O rei disse: “Senhor venerável, quem é esta Devi a quem você chama Mahamaya? Como ela nasceu, e qual é a sua esfera de ação, O sábio? O que constitui a sua natureza? Qual é a sua forma? De onde ela originou-se? Tudo o que desejo e ouvir isto de você, O supremo entre os conhecedores do Brahman”.
O Rishi disse: “Ela é eterna, personificada como o universo. Por ela tudo isso é penetrado. Sem embargo ela se manifesta de múltiplas formas; ouça este conhecimento de mim. Quando ela se manifesta para realizar os objetivos do devas, diz-se que ela nasce no mundo, embora ela seja eterna. No fim de um kalpa ( período em que as quatro eras do mundo acontecem mil vezes ou um dia de Brahma que dura 4,32 bilhoes de anos) quando o universo é destruído num oceano (com as águas do dilúvio) e o Senhor Vishnu adorável deita-se em Sesa Naga e tira sua soneca mística, os asuras terríveis (demônios) Madhu e Kaitabha, saltaram tendo sido criados da sujeira de orelhas de Vishnu, e tentaram matar Brahma.”
“Brahma, o pai de seres, sentava-se no lótus que saiu do umbigo de Vishnu. Vendo esses dois asuras ferozes e Janardhana (Vishnu) adormecido temeu por sua vida, e com a intenção de despertar Hari (Vishnu), Brahma com a mente concentrada exaltou Yoganidra, que vive nos olhos de Hari (apareceu como sono nos olhos de Vishnu). O senhor Brahma resplendente exaltou a Deusa incomparável de Vishnu, Yoganidra, a rainha do cosmo, a sustentadora dos mundos, a causa que mantêm e destrói igualmente o universo”.
Brahma disse: “Ó grande Mãe! Você é Svaha (a energia de Devas). Você é Svadha (a energia de Pitris ou antepassados). Você é realmente é o Vasat (o emblema do sacrifício). Você é a incorporação de Svara (oblação Védica). Você é Sudha (o néctar). Ó eterna e imperecível, você é a personificação da mantra triplo. Você é Savitri e a Mãe suprema do devas. Você é a Deusa da boa fortuna, a soberana, a modéstia, a inteligência caracterizada por conhecimento, timidez, nutrição, contentamento, tranqüilidade e paciência. Armada com espada, lança maça, disco, concha, o arco, as flechas, você é terrível e ao mesmo tempo você é aprazível, sim mais agradável do que todas as coisas agradáveis e excessivamente belas. Você é de fato a Isvari suprema, além de ser a maior e a menor. Ò Devi, encante esses dois asuras inatacáveis Madhu e Kaitabha com os seus poderes superiores. Faça com que Vishnu, o Supremo Senhor do Universo, seja rapidamente despertado do sono e desperte em si da sua natureza para matar os demônios e malfeitores”.
O Rishi disse: Então a Devi da ilusão exaltada assim por Brahma, o criador, para despertar o Senhor Vishnu a fim de destruir Madhu e Kaitabha, arrastou-se para fora de cada parte do corpo transcendental de Sri Vishnu, e apareceu perante Brahma. Então Janardana (Vishnu), o Senhor do Universo, levantou-se em cima de do Seu divã de serpente no oceano universal, e viu aqueles dois demonios (asuras), Madhu e Kaitabha, excedidos de ira e poder, com olhos vermelhos de raiva, tentando devorar Brahma. Logo após o Senhor Vishnu onipotente levantou-se e lutou com os asuras durante cinco mil anos, usando os seus próprios braços como armas, Mayadevi então lançou sua ilusão sobre os demonios. E eles, frenéticos e temerosos com o Seu poder, e iludidos por Mahamaya, exclamaram a Sri Vishnu, “O que você deseja de nós? Peça-nos alguma benção”.
O Supremo Senhor Vishnu disse: “Se vocês estão satisfeitos Comigo, vocês devem ser ambos mortos por mim agora. Que necessidade há de alguma outra benção aqui? A minha escolha é esta.”.












O Rishi disse: “Aqueles dois asuras, assim encantados por Mahamaya, fitando então o mundo inteiro tomado por água disseram os Senhor Vishnu com olhos semelhantes a pétalas de lótus, 'nos mate em algum lugar onde a terra não é inundada com a água '; Dizendo 'Está bem', o Senhor Vishnu, o grande carregador de concha, disco e maça, os tomou no Seu colo e lá separou as suas cabeças com o Seu disco. Assim ela própria, Mahamaya, apareceu quando louvada por Brahma.”.
Agora escute novamente as glórias de Devi ditas por mim.

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